quinta-feira, 11 de maio de 2017

VALE TUDO - NOVELA 1988



"Quem matou Odete Roitman?" - Esta foi a pergunta que o Brasil inteiro fez naquele fim de ano de 1988! Quem havia assassinado a megera Odete Roitman, a maior vilã da teledamartugia brasileira, interpretada por Beatriz Segall? O mistério do assassino durou 13 dias, virando para o ano de 1989, mas repercutiu em todo o país! Quer saber que matou? Spoiler (??) no final deste post!

Vale Tudo é uma telenovela, produzida pela Rede Globo, exibida no horário das 20h, sendo a 39ª "novela das oito" exibida pela emissora. Apesar de escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, aqui existe uma forte inspiração de Janete Clair, mas sem o tradicional final feliz, tradicional em novelas brasileiras! A trama tinha como base: até que ponto valia ser honesto no Brasil. O cinismo dos personagens Maria de Fátima (Glória Pires) e César (Carlos Alberto Ricelli), sempre em busca do dinheiro fácil conquistou os telespectadores! Apesar dos seus quase trinta anos de exibição, ainda continua atual este tema! A corrupção e a desonestidade (o famoso jeitinho brasileiro), não mudou nada com o passar das décadas, ou séculos! 

A história conta a trajetória de Raquel Accioli (Regina Duarte), que parte atrás da filha, a famigerada Maria de Fátima, que vendeu a casa da família sem avisar a ninguém indo para o Rio de Janeiro em busca de ganhar a vida, da maneira mais fácil. No Rio, ela conhece César Ribeiro, um garoto de programa. Fátima consegue emprego de modelo e vai morar com Solange Duprat (Lídia Brondi), usando a amiga para se aproximar do rico e filho de Odete, Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes), com a ajuda de César, para se casar com ele. Desprezada pela filha e humilhada por Odete, Raquel passa a ganhar a vida vendendo sanduíches na praia, de maneira honesta, vira dona de uma rede de restaurantes. O par romântico de Raquel é Ivan Meireles (Antônio Fagundes), porém durante a novela, por influência de Odete, ele acaba se casando com sua filha, a alcoólatra Heleninha Roitman (Renata Sorrah). O casal passa por vários perrengues, até ficarem juntos, mas o final de  Vale Tudo não foi convencional! O vilões da história se deram bem, não houve castigos, apesar da morte de Odete (spoiler no final!), como Marco Aurélio (Reginaldo Faria), braço direito de Odete, onde aplicou um golpe financeiro e fugiu do país cheio de mala de dinheiro, em um jatinho, totalmente impune. Na sua cena final, Marco Aurélio olha para câmera, encarando o telespectador, e com um sorriso cínico, deu uma banana para o Brasil! Olha a cena abaixo:


"Aqui para você!"


Paralelo a isso, outros temas polêmicos foram abordados:
  • A pintora Heleninha Roitman, luta contra o alcoolismo e conhece o amor com William (Dennis Carvalho), que a encaminha aos Alcoólicos Anônimos para livrar-se do vício. Na época, o nome da personagem virou referência para quem bebia demais! Alias, o alcoolismo de Heleninha é culpa da mãe, que a acusou injustamente da morte do irmão! Eita megera!
  • Bartolomeu (Cláudio Corrêa e Castro), pai de Ivan, fica desempregado, e tem dificuldade em arranjar emprego por não saber utilizar computador. Final e inicio de novos tempos!
  • A irmã de Marco Aurélio, Cecília (Lala Deheinzelin) tem um caso com outra mulher. Homossexualidade na TV! Mas devido a audiência conservadora da Globo, ela teve que ser morta.
  • Tiago (Fábio Villa Verde), o filho de Marco Aurélio, é tímido, virgem, não tem namorada e seu pai desconfia de que seja homossexual, pois ele fica ouvindo música clássica com seu amigo André (Marcello Novaes) no quarto. De novo a homossexualidade, mas aqui com tom de preconceito.
  • Para ter o apoio de Odete para se casar com Afonso, Fátima faz de tudo para separar a mãe Raquel de Ivan. Ela casa com Afonso, mas engravida de César e tenta, ainda grávida, ter um aborto. Fátima se joga de uma escada do Teatro Municipal para tentar matar o bebê! Depois de nascido, ela tenta vender o próprio filho. No final da novela, ela tem um casamento arranjado com um estrangeiro rico e gay, escondendo o verdadeiro amor do estrangeiro, César!

Mas voltando.... "Quem matou Odete Roitman?". Não pense que foi devido as suas maldades, e o motivo do assassinato foi por uma vingança! A morte de Odete foi puro azar da mesma de estar no local e hora errado. Seu assassino foi Leila (Cássia Kiss), mulher de Marco Aurélio, que atirou mortalmente em Odete pensando que era Maria de Fátima, já que Leila desconfiava que Fátima era amante do seu marido. E ela era mesmo! Colegas, ninguém segura uma mulher magoada! Leila, para não se incriminada, Leila foge do país com Marco Aurélio, onde protagonizou a cena da banana! Veja a cena do azar de Odete:


Vale Tudo marcou uma época, ainda da ressaca da ditadura militar, o Brasil pode ver como ele era, como dizia a canção de abertura de Cazuza cantada por Gal Costa - mostra tua cara - e o politicamente correto ainda não tinha virilizado nas novelas brasileiras como as atuais. Podemos ver e sentir que ser honesto no Brasil não era um bom negócio. A corrupção, sempre presente em nossas veias, foi escrachada de forma explicita sem pudor. Apesar do trocadilho, foi a ultima novela honesta da golpista Rede Globo!






segunda-feira, 8 de maio de 2017

BELCHIOR - ALUCINAÇÃO (ALBÚM - 1976)


Belchior, esse sim, um artista pra o povo cearense ter orgulho! E em sua carreira, gravou este clássico dos difíceis  anos 70: Alucinação! Este é o segundo álbum de estúdio do cantor e compositor, lançado em 1976 pela Polygram, hoje atual Universal Music. Nesta obra prima, encontramos grandes do cantor que marcaram toda a sua carreira, como "Apenas um Rapaz Latino-Americano", "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida". O álbum vendeu mais 30 mil cópias no período de um mês. Estima-se que o álbum chegou a mais de 500 mil cópias! Já em seu segundo trabalho, Belchior  chegou ao estrelato! Belchior disse: "Viver é mais importante que pensar sobre a vida. É uma forma de delírio absoluto, entende?" tentando explicar o título.

Belchior saiu de Sobral, no Ceará, em 1965, com sua voz rouca. Tinha influências dos Beatles e Bob Dylan, com toques da Tropicália e dos ritmos nordestinos e de sua terra natal. Participou do movimento Pessoal do Ceará, onde também seus conterrâneos, Fagner, Rodger e Ednardo, participaram. Em 1971, se mudou para o Rio de Janeiro, onde venceu o IV Festival Universitário da MPB, com a canção "Na Hora do Almoço", e em seguida estreou como cantor em disco em um compacto. Depois, em São Paulo, trabalhou em trilhas sonoras para  filmes de curta metragem. E foi com o álbum Alucinação, considerado por vários críticos musicais como o mais revolucionário da história da MPB. Não é para pouco, não!!

No álbum, Belchior canta  para uma juventude que vivia na repressão da ditadura do regime militar. A rebeldia também estava presente. As letras são longas, como em "Apenas um Rapaz Latino-Americano", sendo uma quase biografia do cantor de como ele chegou a cidade grande, acentuado em “Fotografia 3×4″! Ainda em “Fotografia 3×4″, ouvimos as dificuldades dos nordestinos que chegam nas cidades do sul do país! Outras canções ainda falam da rebeldia dentro de uma terra de governo repressor, mas com um tom de esperança dentro de todas as dificuldades daquele período. “Velha Roupa Colorida” e “Como nossos pais” falam sobre isso! A canção título conta uma rotina e da solidão das pessoas na cidade grande! Em “À Palo Seco”, a mente desconcerta com a realidade, e em “Como o Diabo Gosta” somos convocados a lutar contra a conduta militar! Belchior fala da solidão e nos chamava para a guerra, mas de uma forma sutil! Grande álbum!! Mas essa é a minha opinião, ouça o álbum, se emocione e tire suas conclusões!



Infelizmente, Belchior faleceu em 30 de abril de 2017 de forma reclusa e isolada como algumas de suas canções! E como todo gênio que morre, sua obra foi redescoberta e valorizada! Depois que ele se foi, muitos perceberam a força de sua canções! Antes tarde do que nunca! Belchior para sempre! Um bom título para uma canção....